o ano em que os policiais foram expulsos do dia da memória trans

por Black Flag Sidney

essa tradução também pode ser encontrada em nosso acervo digital.

Em 2019, ocorreu uma importante mudança em Sydney[1] em sua comemoração anual do Dia da Memória Trans, um dia que celebra as vidas perdidas pela transfobia em todo o mundo. Durante anos, uma vigília foi realizada no Harmony Park, organizada pelo Gender Centre. A vigília não só era realizada ao lado da Delegacia de Polícia de Surry Hills, mas os policiais também compareciam uniformizados, eram co-anfitriões da vigília e recebiam um espaço para falar no evento.

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anarcofeminismo e separatismo. qual é o lugar dos homens (cis-hétero) na luta anarcofeminista?

por Tía Akwa

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Para quem luta

Recentemente, em um espaço de discussão feminista, surgiu a questão de saber se os coletivos, espaços e atividades enquadrados no anarcofeminismo e no anarquismo queer deveriam ter caráter separatista, principalmente no que diz respeito à exclusão absoluta de indivíduos que podem ser caracterizados como homens cisgêneros (ou seja, não transgêneros) heterossexuais. Para nossa grande surpresa, descobrimos que, entre os participantes, a maioria esmagadora consentiu com essa exclusão, justificando-a com fórmulas como a de que esses indivíduos são “expoentes do patriarcado”, que não podem “liderar as lutas, nem integrá-las, apenas apoiá-las de fora” e isso porque a luta do (anarco)feminismo “não é deles, não é a sua luta”.

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praxis prefigurativa anarquista queer

por Madelyyna Zicqua

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Há algumas décadas, fala-se em abandonar o conceito cataclísmico de revolução, que a interpreta como um breve momento de insurreição geral que, de forma não muito clara, não apenas destrói o poder (político e econômico, supostamente), mas também institui uma nova ordem sem hierarquias. Esse conceito de revolução, infelizmente, é herdeiro de revoluções fracassadas, desde a comuna de Paris até a revolução russa. O conceito que o substituiu é um conceito de revolução que a considera como um processo estendido no tempo, de construção progressiva de espaços, instâncias e dinâmicas (em uma palavra, instituições) que estão em condições de operar de forma diferente, de maneira anarquista e comunista, e que também podem expandir progressivamente suas esferas de operação, a fim de atingir o maior número de pessoas. Essa noção de revolução pode ser chamada, para usar o termo dos anarco-pacifistas alemães da década de 1970, de uma revolução a partir das raízes da grama (Graswurzelrevolution; grassroots revolution em inglês) ou, simplesmente, uma revolução de base.

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trans-anarquismo: corporeidade transgênera e desestabilização do estado (Elis L. Herman)

trecho do artigo “trans-anarquismo: corporeidade transgênera e desestabilização do estado”, de Elis L. Herman (trad: Bruno Latini Pfeil e Cello Latini Pfeil)

artigo completo disponível no acervo.

“as pessoas transgêneras têm de negociar uma fronteira cultural monitorada por algum indivíduo que possui autoridade institucional; frequentemente, embora nem sempre, essa travessia de fronteira ocorre na interseção entre fronteiras físicas e abstratas (como na circulação entre países). Nestes pontos, as percepções de indivíduos em posição de autoridade sobre os indicadores culturais da normatividade de gênero são utilizadas para determinar se o poder institucional será invocado para punir um indivíduo cujo gênero não ‘passa’ na inspeção fronteiriça.
[…]
É evidente que a corporeidade transgressiva de gênero incita atos de vigilância, escrutínio e policiamento por parte do estado e de suas instituições. Ao questionar a natureza dessa vigilância, podemos expor os campos que fazem com que o estado se sinta mais ameaçado. Quanto mais violentamente uma fronteira é escrutinada, mais socialmente ameaçadora pode ser considerada sua travessia.”

tradução “resistindo à medicina, re/modelando o gênero” (Dean Spade)

tradução para o português do texto “resistindo à medicina, re/modelando o gênero”, de autoria de Dean Spade.

artigo publicado em 2003, na Berkeley Journal of Gender, Law & Justice, v. 18, issue 1. Originalmente escrito em inglês e intitulado “Resisting Medicine, Re/modeling Gender”. tradução realizada pelo acervo trans-anarquista.

Resistindo à Medicina, Re/Modelando o Gênero, de Dean Spade.

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publicação da revista trans-libertária, n. 1, 2024

acesso à edição completa e aos materiais separados:
https://transanarquismo.noblogs.org/revista-trans-libertaria-v-1-2024/

agradecemos a todes que enviaram seus materiais e confiaram nessa iniciativa. esperamos que esse projeto traga uma contribuição interessante para os vários núcleos, grupos, coletivos, frentes e indivíduos libertários que existem por aí.

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sexualidade como forma de estado

Jamie Heckert, “Sexualidade como Forma de Estado”, páginas 4 e 5.

“Se o anarquismo não é uma ideologia fixa, mas uma tendência em contínua evolução na história humana “para desmantelar […] formas de autoridade e opressão” (Chomsky, 1970), então parece evidente para mim que o anarquismo pode ser percebido nas críticas queer sobre qualquer suposta fronteira existente entre heterossexual e homossexual, e a violência que seu policiamento envolve. Portanto, nesse sentido, uma abordagem anarquista da orientação sexual não é particularmente original nem necessária. A teoria queer e os movimentos feministas e outros movimentos dos quais e com os quais ela se desenvolve já estão fazendo esse trabalho. Dito isso, sugiro que uma crítica explicitamente anarquista da orientação sexual pode ser valiosa para recontextualizar histórias, compreender experiências contemporâneas e desenvolver novas formas de relações e movimentos sociais.

[…]

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minha neurodivergência também é queer e anarquista

por Luz Costa

Eu seria muito tolo de não pensar na minha neurodivergência em oposição ao Estado psicofóbico. Se não há espaço para que eu possa viver plenamente meu corpo atípico, há menos ainda para meu corpo transqueer – em vista que os dois ocupam o mesmo espaço: eu. E seria ainda mais tolo em não ver crítica num espaço que recorre constantemente aos binarismos sexistas para explicar o meu diagnóstico: os homens geralmente têm ‘y’ comportamento e as mulheres ‘x’. Mas qual espaço meu corpo sem gênero ocupa no meio homem-mulher?

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Anarcotrans

por Luz Costa

1 de junho de 2024 

Parada LGBTQIA+ 

Olhava pela janela do ônibus enquanto ia em direção à avenida mais agitada da cidade – a av Paulista -, após esperar o ônibus por uma hora. O sol esquentava minha pele, e eu suava em contato com os moradores do meu bairro, que aos poucos enchiam o ônibus. Mas nada disso importava: eu estava orgulhoso! Era meu dia! Logo, entro no metrô e um show de imagens explodia à minha vista: eu via, animadamente, várias pessoas coloridas, pintadas e carregando alguma bandeira em si. A excitação era tanta, eu mal esperava pra estar, pela primeira vez, na avenida com tanta gente como eu, tão pertinho de mim! Enquanto chegava mais próximo da estação Trianon-Masp, mais nervoso eu ficava. 

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sobre boycetas, travestis e a sombra do oprimido

como costuma ocorrer quando pautas relativas às transmasculinidades ganham visibilidade, recentemente nos deparamos com a polêmica sobre o termo boyceta. seria este um termo adequado, equivocado, genitalista, contranormativo ou normativo? o que estariam propondo as pessoas que constituem suas identidades a partir deste termo e que dele o utilizam para se autodeterminar?

não podemos — e não nos interessamos por — generalizar experiências de autoidentificação, reduzindo sua multiplicidade a apenas uma motivação. as experiências transmasculinas que fazem sentido no espectro da identidade “boyceta” são plurais, e, embora compartilhemos vivências e demandas, não há apenas uma maneira de ser boyceta, tampouco apenas um único significado.

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autoritarismo acadêmico, uma não-denúncia

o fantasma da boa educação e dos bons costumes mantém um clima falso de concórdia. é um veículo extremamente silencioso e eficaz de violência, especialmente de violência institucional.

vejamos como isso se expressa em uma situação absolutamente hipotética. um professor universitário com anos de casa [e que se autointitula anarquista] justifica seus assédios sexuais e morais sob a prerrogativa de que “temos que acabar com as hierarquias” e “eu sou afetuoso mesmo”. e qualquer um que tente romper com o contrato da boa educação e dos bons costumes se torna um louco, um dramático, histérico, “jovem demais” para saber qualquer coisa, “incapaz” de interpretar as relações humanas, e passa a ser alvo de ameaças constantes, chantagens e abuso psicológico – sem falar em todo o punitivismo que ronda as conversas, reuniões e orientações de uma graduação ou pós-graduação.

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sobre a parada lgbtiap+ de são paulo

no dia 2 de junho de 2024, ocorreu a parada do orgulho lgbt de são paulo, repleta de bandeiras do brasil e empresas multinacionais patrocinadoras. na tentativa de ressignificar e “retomar” a bandeira nacional, de afirmar que o verde e amarelo é “para todes”, a parada lgbt se tornou, ao nosso ver, uma captura neoliberal, racista e governamental. para ilustrar, oferecemos uma comparação, que não consideramos desproporcional diante dos mais de 500 anos de colonialismo e colonialidade: se é impensável ressignificar a suástica nazista ou o símbolo do sionismo, como exatamente poderíamos ressignificar a bandeira do brasil? o que essa bandeira significa além de genocídio contra povos indígenas e africanos escravizados? as cores da bandeira, que a parada lgbt afirma serem “para todes”, foram escolhidas pelos responsáveis pela colonização dos territórios que convencionamos chamar de “brasil”. o que o lema “ordem e progresso” significa além de 500 anos de colonialismo, escravização e extermínio? o que significa efetivamente a ordem e o progresso tão fortemente bradados como símbolo de uma nação? a ordem como submissão à lei, o progresso como distanciamento de certo “primitivismo”: percebe-se a legitimação de um projeto colonialista global, que, em terras nomeadas brasileiras, culminou e culmina na perseguição de pessoas consideradas “desviantes sexuais”, na eugenia e no higienismo social.

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sobre a situação da saúde trans no perú

em 10/05/2024, o governo peruano publicou o Decreto Supremo nº 009-2024-SA, que designa a transexualidade como uma patologia mental, sob alegação de que a patologização justificaria o acesso de pessoas trans a atendimentos médicos. referenciando-se no CID-10, que compreendia a transexualidade como um transtorno de identidade de gênero, o governo peruano previsivelmente recusou as tentativas de negociação de movimentos sociais lgbtiap+. esse reacionarismo tipicamente institucional demonstra a impossibilidade de se aliar a forças governamentais para defender pessoas trans, e as mais afetadas por essas mudanças são negras, indígenas e periféricas. no dia 31/05/2024, ativistas trans se reuniram em frente ao Ministério da Saúde peruano e protestaram até o Palácio da Justiça, demandando a revogação do decreto e a adoção do CID-11, segundo o qual a transexualidade seria uma incongruência de gênero.

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