sobre a parada lgbtiap+ de são paulo

no dia 2 de junho de 2024, ocorreu a parada do orgulho lgbt de são paulo, repleta de bandeiras do brasil e empresas multinacionais patrocinadoras. na tentativa de ressignificar e “retomar” a bandeira nacional, de afirmar que o verde e amarelo é “para todes”, a parada lgbt se tornou, ao nosso ver, uma captura neoliberal, racista e governamental. para ilustrar, oferecemos uma comparação, que não consideramos desproporcional diante dos mais de 500 anos de colonialismo e colonialidade: se é impensável ressignificar a suástica nazista ou o símbolo do sionismo, como exatamente poderíamos ressignificar a bandeira do brasil? o que essa bandeira significa além de genocídio contra povos indígenas e africanos escravizados? as cores da bandeira, que a parada lgbt afirma serem “para todes”, foram escolhidas pelos responsáveis pela colonização dos territórios que convencionamos chamar de “brasil”. o que o lema “ordem e progresso” significa além de 500 anos de colonialismo, escravização e extermínio? o que significa efetivamente a ordem e o progresso tão fortemente bradados como símbolo de uma nação? a ordem como submissão à lei, o progresso como distanciamento de certo “primitivismo”: percebe-se a legitimação de um projeto colonialista global, que, em terras nomeadas brasileiras, culminou e culmina na perseguição de pessoas consideradas “desviantes sexuais”, na eugenia e no higienismo social.

o nacionalismo não começou com o governo bolsonaro e não terminou com ele. a apropriação da bandeira pelo bolsonarismo apenas evidenciou seu verdadeiro significado, sendo hasteada pelos herdeiros daqueles que hastearam as primeiras bandeiras no intuito de colonizar. a necessidade de hastear uma bandeira, de brandi-la com orgulho, somente denota o ímpeto de demarcação territorial, de circunscrição e cerceamento.

não contrariamos, com isso, as bandeiras de movimentos sociais minorizados, tendo em vista a importância de nos autodeterminarmos entre nós e diante daqueles que nos silenciam; contrariamos, na verdade, a perpetuação do territorialismo nacionalista e salvacionista que se alastra por algo tão insípido como uma bandeira. a captura fascista do símbolo nacional não nos exime da responsabilidade de rejeitar o nacionalismo, pois defender o capitalismo, o estado-nação e o patriotismo nesse território que chamamos de brasil é defender a supremacia branca, o colonialismo, o extermínio da população trans, a imperatividade do estado. é uma defesa da política de morte.